Homilia de Quarta-feira de Cinzas 2021 – Bispo de Beja
17 de fevereiro de 2021
Caros irmãos e irmãs:
No próximo dia quatro de abril celebraremos a Páscoa do Senhor Jesus Cristo. Hoje, Quarta-feira de Cinzas, começamos este tempo santo da Quaresma, tempo para nos prepararmos convenientemente para esse acontecimento central das nossas vidas, neste ano.
Como nos vamos preparar? Na palavra do profeta Joel que escutamos na primeira leitura, o Senhor diz-no-lo claramente: Convertei-vos a mim de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações.
Queridos irmãos, levemos muito a sério esta séria admoestação que o Senhor nos faz: convertamo-nos a Ele, voltemo-nos inteiramente para Ele, exponhamos-Lhe sem reserva os nossos corações com as suas duplicidades e pecados que Ele conhece sobejamente. Abramos os nossos corações à Sua luz, pois ela tem o poder de os iluminar, e assim, poderemos distinguir com nitidez o bem e o mal, o verdadeiro bem e os bens que o são apenas na aparência. Convertamo-nos ao Senhor, ou seja, aceitemos a Sua Palavra como farol para os nossos passos e luz para os nossos caminhos. Não tenhamos medo do Senhor que nos ama de verdade, tais quais nós somos. O seu amor nos dá a vida, nos conforta e nos sustenta.
2 – É o Senhor que vos exorta por nosso intermédio, dizia-nos São Paulo na segunda leitura. Reconciliai-vos com Deus. A Cristo que não conhecera o pecado, identificou-O Deus com o pecado por amor de nós para que, em Cristo, nos tornássemos justiça de Deus.
Quando, irmãos caríssimos, olhamos para a imagem de Cristo Crucificado vemos o cumprimento desta palavra de São Paulo. Cristo nosso Senhor, o Verbo Eterno e Filho bem amado do Pai, tornou-se maldição por amor de nós pecadores, como está escrito: maldito todo aquele que é suspenso no madeiro. Cristo entregou-Se inteiramente nas mãos do Pai e o Pai não o abandonou na morte mas ressuscitou-O e transformou a árvore da Cruz em fonte de bênçãos.
Caríssimos irmãos: celebrar a Páscoa com Jesus é aceitarmos morrer com Ele para ressuscitarmos com Ele e podermos receber o Seu Espírito. É passarmos com Ele da morte para a vida, é deixarmos o pecado para vivermos segundo o Espírito na condição de filhos adotivos de Deus. Olhando para vossa vida concreta, talvez vos pareça impossível esta mudança. Ela é realmente impossível a quem pensa realizá-la com as suas próprias forças, mas é simples e fácil a quem se converte ao Senhor e aprende a odiar o pecado e a amar a graça de sermos seus amigos.
A Quaresma é o tempo favorável para esta conversão acontecer em nossas vidas. Vamos aproveitar este tempo maravilhoso em que o Senhor nos chama ao deserto para nos falar ao coração.
3 – Como sabeis, caríssimos irmãos, a Igreja recomenda-nos, neste tempo, a prática mais assídua da oração, do jejum e da esmola para darmos espaço ao Senhor e para abrirmos o coração aos irmãos necessitados.
Somos Igreja Celebrante é o tema deste ano pastoral na nossa Diocese. Paradoxalmente, a pandemia impede-nos até de realizarmos as celebrações dominicais em que a Igreja que somos aparece realmente a celebrar. Dirijo-me a vós que acompanhais esta celebração em vossas casas: como Igreja Católica que somos, embora tão condicionados pela pandemia, somos ou não Igreja que celebra o Santíssimo Sacramento da Eucaristia? É ou não é verdade que esta situação de jejum vos abre mais o apetite e o desejo de participar na Eucaristia Dominical?
Mas a oração da Igreja não se resume a participar na Celebração Eucarística. Nas vossas casas podeis rezar o terço todos os dias. Como Igreja doméstica, podeis rezar Laudes e Vésperas, e até fazer uma celebração da Palavra, porque não? Aconselho-vos a fazer a Via Sacra nas sextas-feiras e, no mês de março, a colocar em destaque uma imagem de São José, padroeiro da Igreja Universal e padroeiro principal da nossa Diocese. Neste ano que lhe é especialmente dedicado deve crescer o nosso amor e a nossa devoção para com ele.
4 – A liturgia da Palavra desta missa de Quarta-feira de Cinzas centra-nos na prática do jejum. Hoje é dia de jejum obrigatório para todos os católicos entre os 18 e os 65 anos; o outro dia de jejum, também obrigatório, é sexta feira santa. Há uma diferença grande entre estes dois jejuns. O de hoje é penitencial, é por causa da nossa condição de pecadores. O de sexta-feira santa é um jejum de compaixão, para nos unir a Cristo que por nós morreu na Cruz. Nestes dois dias é obrigatório jejuar, mas devemos jejuar ao menos uma vez por semana na sexta-feira, e também fazer abstinência de carnes. O jejum é fundamental numa Igreja que se entende como comunhão de irmãos. Daquilo que poupamos, podemos dar aos pobres nossos irmãos.
Sabeis certamente, irmãos e irmãs, que a pandemia tem feito aumentar o número de desempregados e de pessoas que necessitam e pedem alimento. Neste ano a Renúncia Quaresmal da nossa Diocese vai servir para ajudarmos pessoas necessitadas das nossas paróquias. Se tens bens em abundância, caro irmão, reparte com quem não tem. A esmola apaga uma multidão de pecados.
5 – Queridos irmãos e irmãs: o gesto da imposição das cinzas que vamos fazer lembra-nos que somos pó e que ao pó da terra voltaremos. Sejamos humildes. Deus não tem nada a ver com a soberba. Deus é humilde e os seus olhos voltam-se para os humildes. Ele dá a sua graça aos humildes. Humilhemo-nos perante o Senhor, convertamo-nos a Ele, deixemo-nos iluminar e transformar por Ele nos breves dias da Quaresma e chegaremos à solenidade da Páscoa mais aptos e dispostos a viver a Vida Nova, segundo o Seu Espírito.
+ João Marcos, Bispo de Beja