Caríssimos irmãos e irmãs : alegrai-vos!
Já se aproxima a festa da Páscoa, a festa maior para todos os cristãos, a solenidade que é a fonte da vida para todos nós!
1 – Chegamos vivos à Quaresma deste ano de 2021.
Muitos daqueles que iniciaram connosco este ano já partiram. A pandemia continua no meio de nós, ceifando milhares de vidas.
Nós estamos vivos. Mas o que é a vida? Materialmente falando, a vida é um tempo situado entre a conceção e a morte. Pode durar alguns dias ou muitos anos, mas começa e acaba. Por isso ela é tão preciosa, por isso o direito à vida é o primeiro de todos os direitos. Este direito a viver implica todos os outros direitos à alimentação, ao trabalho… tudo isto a Igreja o tem repetidamente ensinado e proposto, e vós já o sabeis!
Mas este tempo que nos é concedido podemos vivê-lo mal, ou bem; ou bem, ou ainda melhor. É para isso que Deus nos concede em cada ano a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, como um tempo de namoro para podermos renovar a nossa vida nas fontes da salvação.
2 – A fonte da vida é Deus. Amar a Deus e conhecê-l’O é o grande objetivo da vida de cada homem e mulher que vêm a este mundo. Como está o teu relacionamento com Deus? No meio desta sociedade materialista que parece já não precisar de Deus, nós os cristãos adoramo-l’O e damos testemunho das suas obras de amor para connosco. Como ensina São Paulo: n’Ele vivemos nos movemos e existimos.
Podemos conhecer Deus que se revelou como Criador do Universo, mas sobretudo no amor do Seu Filho Jesus Cristo Nosso Senhor que veio até nós e se manifestou como Luz do mundo, como Filho de Deus e como Esposo das nossas almas. Ele, pelo amor que nos tem, carregou com os nossos pecados e morreu na Cruz. Mas o Pai ressuscitou-O e Ele continua vivo hoje no meio de nós, no Corpo da Igreja nossa mãe, para nos dar o Espírito Santo. Sem esse Espírito, vivendo segundo a carne, a nossa vida neste mundo reduz-se a uma coleção de desilusões. Mas, vivendo n’Ele, sabemos pelo Seu testemunho ao nosso espírito que somos filhos de Deus e luz para o mundo, que somos chamados a ser santos e participantes da glória de Cristo.
O Espírito Santo manifesta-Se na Igreja. É Ele quem a reúne como assembleia celebrante para louvar a Deus, e como povo de profetas para anunciar o Evangelho. Vivendo em nós, n’Ele temos acesso à oração e a vida espiritual.
Na Vigília Pascal, o ponto de chegada da celebração da Palavra é a renovação das promessas do nosso Batismo, a Profissão de Fé. Para que essas palavras solenes que iremos proclamar de vela acesa na mão sejam eficazes, a Igreja concede-nos estes quarenta dias de penitência quaresmal, ou seja quarenta dias para renunciarmos às tentações do demónio e aderirmos de novo a Cristo nosso Senhor. Respondendo embora no singular sim renuncio e sim creio, é comunitária a renunciação a Satanás, é comunitária também a nossa Profissão de Fé e deve ser também comunitária a vivência da Quaresma que nos vai conduzir à Páscoa.
3 – A vida cristã é um percurso para a terra prometida, percurso possível apenas se vamos alimentados pela esperança. A terra prometida para a qual caminhamos, é a Jerusalém Celeste, é o Céu, é a comunhão com Deus, a indescritível alegria de participarmos no seu amor. É claro que as nossas vidas são sustentadas por várias esperanças naturais. Mas a esperança cristã é sobrenatural: é a vida eterna à qual se chega morrendo e ressuscitando com Cristo. Esta esperança alimentamo-la na oração individual e comunitária, mas também com o jejum que vos convidamos a praticar ao menos um dia por semana, na sexta feira.
4 – Aquilo que poupamos com o jejum devemos entregá-lo, por esmola, aos pobres e necessitados. Dar esmola, fazer participantes dos nossos dons os irmãos necessitados é uma prática de caridade. Mas não devemos confundir a caridade cristã com a virtude humana da solidariedade. É bom sermos solidários, estarmos firmes ao lado daqueles que precisam e ajudá-los. Mas a caridade de Cristo, o amarmo-nos uns aos outros como Ele nos amou leva-nos muito mais longe, leva-nos a dar a vida por aqueles que amamos: nisto conhecemos o Amor: Jesus deu a sua vida por nós e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos. Amar assim, com o mesmo amor, com o mesmo espírito e com os mesmos sentimentos de Jesus é possível, só é possível, a quem se reconhece amado pelo Senhor.
5 – Nesta situação de pandemia, caríssimos irmãos, não sabemos como serão as celebrações pascais deste ano. Sabemos que, sem elas, a nossa vida não pode funcionar, e assim, de qualquer maneira, iremos celebrá-las.
Vivamos intensamente esta Quaresma! Despertai, adormecidos na preguiça do deixa andar. O Senhor está a passar por aqui e chama-vos, chama-te pelo teu nome! Quando for possível, quando terminar este confinamento, regressai com alegria às celebrações dominicais.
Todo este programa da vida cristã apenas funciona se nos convertemos seriamente ao Senhor Jesus Cristo. A santidade a que somos chamados, caros irmãos e irmãs, é a única santidade de Cristo, é vivermos n’Ele como filhos adotivos no Filho Único. Cultivai a vida familiar. Deixai de pecar e perdoai os pecados daqueles que vos ofenderam. Reconciliai-vos com o Senhor e com os vossos irmãos. Recebei, no sacramento da penitência, o perdão generoso do Senhor, e alegrai-vos com a Sua graça regeneradora. Orai mais frequentemente, praticai o jejum e a abstinência de carne e cultivai a vida do espírito dando esmola generosamente. Não sejais indiferentes à situação angustiosa de tantos e tantas que estão passando necessidades, e contribuí também para as vossas comunidades paroquiais que, neste tempo sem celebrações, veem muito reduzidas as somas dos peditórios. A Renúncia Quaresmal deste ano destina-se a ajudar os pobres das paróquias da nossa diocese. Sede generosos! Como diz a Sagrada Escritura, a esmola apaga uma multidão de pecados.
Rezemos uns pelos outros.
Rezai por mim.
Abraço-vos a todos no Senhor a Quem peço que vos abençoe generosamente.
+ João Marcos, Bispo de Beja