Homília da Missa do Dia de Natal Sé de Beja 2024

Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo,

Hoje, neste dia tão especial, quero começar por vos saudar calorosamente, desejando a todos um Santo e Feliz Natal! Que esta celebração do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo traga paz, alegria e esperança aos vossos corações e às vossas famílias.

O prólogo do Evangelho segundo S. João, que acabámos de escutar, é um dos textos mais belos e de maior profundidade teológica de toda a Sagrada Escritura. Enquanto ontem, na Missa da Noite, meditávamos sobre o nascimento de Jesus na nossa história, hoje, São João leva-nos a contemplar este mesmo acontecimento a partir de uma perspectiva muito mais ampla “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”

Estas palavras lembram-nos o início do Livro do Génesis: “No princípio, Deus criou o céu e a terra.” S. João apresenta-nos Jesus, o Verbo, como aquele que existia desde toda a eternidade, antes da Criação, antes do tempo. Ele é a Palavra eterna pela qual tudo foi feito. Celebramos hoje não apenas o nascimento do Menino em Belém, mas a entrada na história daquele que é a própria fonte da vida e da existência.

O prólogo ajuda-nos a clarificar a nossa concepção de Deus e o que Ele é para nós. Na conceção de Deus própria do cristianismo não há lugar para o panteísmo, que identifica Deus com o mundo, nem para o deísmo, que apresenta Deus como um ser distante e indiferente. Uma leitura em profundidade permite purificar estas e outras conceções erróneas de Deus que se afastam da fé da Igreja que nos foi transmitida pelos apóstolos. O Evangelho proclama que Deus é anterior e independente do mundo criado, mas também profundamente envolvido na sua história.

Como nos recorda a segunda leitura, “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos profetas”. Ou seja, Deus revelou-se de forma gradual ao longo dos tempos, através dos profetas e da história do seu povo. Lembremos Abraão, Moisés, os Profetas. Mas essa revelação atingiu a sua plenitude na Encarnação do Verbo. “Deus, nunca ninguém O viu. O Filho unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer”. Em Jesus, Deus deu-se a conhecer plenamente. O Deus eterno fez-se pequeno, acessível, próximo.

Contudo, o Prólogo do Evangelho segundo S. João não esconde o drama da rejeição: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.” O Verbo feito carne, que é a luz verdadeira que ilumina todo o homem, foi rejeitado por muitos. Este drama da rejeição continua ainda hoje, sempre que escolhemos as trevas do egoísmo, da indiferença ou do pecado em vez da luz de Cristo.

Mas, ao mesmo tempo, o Evangelho traz-nos uma promessa: “A todos os que o receberam, deu o poder de se tornarem filhos de Deus.” E é esta a nossa verdadeira identidade, a razão, o fundamento do nosso valor, da nossa dignidade. O Natal convida- nos a abrir o coração para acolher Jesus, para nos deixarmos transformar por Ele e viver como filhos e filhas de Deus.

Neste prólogo, São João Baptista surge como uma figura de grande relevo. Ele não é a luz, mas veio como testemunha da luz. João Baptista é para nós um exemplo de humildade e missão: apontar para Cristo, preparar os corações para o acolher, viver em serviço total à vontade de Deus.

Finalmente, o prólogo apresenta Jesus como a Luz do mundo. “O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem.” Esta luz não é apenas para um grupo restrito, mas é destinada a iluminar os confins do mundo, como nos recorda a primeira leitura e o salmo. A luz de Cristo quer chegar às periferias geográficas e existenciais e também, a um nível mais pessoal, quer chegar a todas as dimensões da nossa vida (familiar, afectiva, laboral, social, lúdica) e ao que de mais profundo há em cada um de nós.

Nesta luz encontramos verdade, paz e plenitude. Deixemo-nos iluminar por ela! Que ela penetre todas as dimensões da nossa vida: as nossas relações, o nosso trabalho, as nossas escolhas, os nossos sonhos. Que, iluminados por Cristo, nos tornemos também portadores da sua luz, levando-a aos mais necessitados, aos marginalizados, aos que vivem nas sombras da solidão e da dor.

Neste dia de Natal, diante do mistério do Verbo feito carne, peçamos ao Senhor que reanime em nós a fé, a esperança e a caridade. O Verbo eterno tornou-se um de nós, para nos resgatar e fazer-nos participar da sua vida divina.

Que esta Luz ilumine o nosso caminho, transforme os nossos corações e se espalhe pelo mundo inteiro. A todos, desejo um Santo Natal cheio de bênçãos!

† Fernando Paiva, Bispo de Beja

 

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