Antes de 1770
Sendo uma das Dioceses mais antigas do sul da Lusitânia e provavelmente, durante a romanização, sufragânea de Mérida (Espanha) teve como seu Bispo, no tempo do rei Visigodo Têudis (531-548) D. Apríngio de Beja ou Pacense, (Pax Julia dos Romanos). Durante séculos, as batalhas entre árabes e cristãos, disputando as terras férteis de Beja, os pactos débeis entre vencidos e vencedores de modo a facilitar a mútua convivência e alguma liberdade no exercício do culto a troco de dupla contribuição em géneros da terra e pessoal, geraram a instabilidade social e pesaram negativamente no progresso da vida religiosa. Durante o domínio árabe foi anexada novamente a Mérida, tendo estado privada de Bispo residencial desde o ano 754 até 1770.
O contacto com muçulmanos e judeus pesou negativamente nos costumes tradicionais e com a introdução de alguns erros doutrinais, mormente a respeito da Trindade. Apesar da relativa tolerância, é de assinalar a exceção nos governos de Abderramão II e seu filho e sucessor Mohâmede I, (852-886) assinalados com violentas perseguições. Nesta época, entrou na história da Diocese de Beja o sangue do mártir S. Sisenando, natural de Beja, que pagou com a decapitação sua fidelidade à Igreja, em Córdova, a 16 de Julho do ano de 851. Depois da reconquista cristã, concluída em 1.249 com o Rei D. Afonso III, a Diocese tornou-se sufragânea de Évora, tendo continuado a sofrer as consequências nefastas da desorganização eclesiástica, isolamento, abandono e vida de fé bastante débil.
Depois da Restauração da Diocese
Pela Bula de Clemente XIV, Agrum Universalis Ecclesiae, alcança novamente a sua autonomia como Diocese, tendo então como seu Bispo D. Fr. Manuel do Cenáculo Vilas-Boas (1770-1802). Gonçalves Serpa não nos deixa quaisquer dúvidas quanto ao panorama desolador que continuou, apesar da esperança suscitada com a criação do novo Bispado, em 1770:
«Foi uma grande hora de esperança, mas esperança que não correspondeu à expectativa.
O primeiro bispo do novo período foi D. Fr. Manuel do Cenáculo. Este nomeado, embora em 1770, deixou-se ficar em Lisboa, junto da Corte, até 1777, ano em que morreu El Rei D. José e o Marquês caiu do poder.
Praticamente foram sete anos de Sé vacante. Durante estes anos não se ordenou nenhum sacerdote para a Diocese de Beja.
Fr. Cenáculo foi transferido para a Sé de Évora em 1802. Começou então uma série de bispos relâmpagos que se sucediam com dois, três anos de intervalo. Assim: D. Francisco Leitão (1802-1806; D. Joaquim do Rosário (1807-1808); de 1808 até 1819 esteve a Sé vacante; D. José da Mata (1859-1860); D. António da Trindade Vasconcelos (1861-1863). De 1863 a 1883 esteve a Sé vaga mais vinte anos; de 1910 a 1920, embora vivesse o Bispo D. Sebastião de Vasconcelos, ele estava exilado em Roma e a cátedra estava praticamente sem pastor, pois a Santa Sé havia confiado a administração desta Diocese ao prelado de Évora, D. Augusto Eduardo Nunes. Destes números tira-se uma conclusão lamentável: de 1770 a 1920 mediaram cento e cinquenta anos. Pois neste espaço de tempo a Sé Pacense esteve vaga cinquenta anos. Mais ainda: de 754, termo do período visigótico, a 1920, termo do período da restauração, mediaram mil cento e sessenta e seis anos; pois em tão largo espaço de tempo a Sé pacence teve assistência regular apenas cem anos!…»
Possivelmente, a Sé de Beja também se encontrou vaga entre 1832-34, sendo governada então por um vigário capitular.
Os longos interregnos nas nomeações dos seus Bispos residenciais proporcionaram débil assistência pastoral, fortes campanhas de calúnias e insultos contra a Igreja e consequente descristianização dos modos de sentir, pensar e agir.
As dificuldades de comunicação entre populações dispersas, o contexto social e político marcado pela revolução levada a cabo pelo Marquês do Pombal, pela maçonaria-liberal e republicana, ideologias hostis à ação da Igreja, e a extinção de todas as ordens religiosas não permitiram mais que um mínimo de organização eclesiástica, uma evangelização muito deficiente e a perda do ritmo da vida Sacramental.
Em 05 de Fevereiro de 1922, D. José do Patrocínio Dias foi recebido com hostilidade numa Diocese profundamente desorganizada e viveu a experiência daquele que tem que começar tudo de novo, pois “passara o furacão da impiedade e atrás de si só ficaram destroços, desolação, miséria e aspetos de morte”.
As ruínas e profanação de muitos lugares de culto, a expropriação por parte do Estado das Igrejas, conventos e também do próprio edifício do Seminário, o clero insuficiente para as necessidades, desprestigiado e envelhecido, e as populações bastante afastadas da prática cristã foram o cenário, humanamente nada encorajador, para o “Bispo-Soldado”, nomeado a 16 de Dezembro de 1920 e Sagrado a 03 de Junho de 1921. Com a ajuda de famílias abastadas, foi aberto em Serpa o Seminário Menor em 1925 que, também com a colaboração por parte do Estado a partir de 1926, passou para Beja, em 1940, em edifício construído de raiz. Reconstruíram-se os templos e, sobretudo nas Missões Populares de 1945, procurou-se ir junto dos que viviam afastados da prática religiosa e levá-los a batizar, casar e pedir o funeral religioso, práticas já habituais na década de setenta, para grande parte da população.
Em 1945, por ocasião das Missões Populares e Visitas Pastorais, em toda a Diocese, foram feitas 3.145 pregações, foram “catequizados” 11.476 indivíduos (crianças e adultos), e realizaram-se 28.713 Baptismos e 3.779 Casamentos.
Os mil e quatrocentos e setenta e um anos de história atribulada oferecem-nos na atualidade muitas razões para compreendermos o presente.
Imediatamente após o “25 de Abril de 1974”assistimos ao abandono de alguns praticantes, a que não são alheias as novas condições sociais, económicas e políticas e o transparecer da presença de alguma hostilidade para com a Igreja, a qual, na opinião pública, ainda aparece ligada às famílias abastadas, embora tal situação já estar ultrapassada.
À aceitação da resignação de D. Manuel dos Santos Rocha, por limite de idade, seguiu-se a entrada solene na Sé de Beja de D. Manuel Franco Falcão, como Bispo Residencial, no dia um de Outubro de 1980, tendo-se mantido à frente da Diocese até ao dia 25 de Janeiro de 1999. Nesse mesmo dia, assumiu a condição de Administrador Apostólico da Diocese até à entrada solene na Sé Catedral de seu sucessor, D. António Vitalino Fernandes Dantas, no dia 11 de Abril desse mesmo ano.
É justo e necessário não esquecer algumas preocupações de D. Manuel Falcão: impulsionar da evangelização por meio das Missões Populares de 15 dias, seguidos da Visita Pastoral, acompanhar o clero sobretudo nas reuniões Arciprestais, Planificação Pastoral a curto e médio prazo, definição da situação canónico-jurídica das Instituições de Solidariedade Social da Igreja, defesa e valorização do Património Histórico e Artístico da Diocese (sobretudo, a «Arte Sacra»), Peregrinações Diocesanas a Fátima (em ritmo trienal), visitas anuais às Comunidades Religiosas ao serviço da Diocese e dotar a Diocese de meios económicos necessários ao normal cumprimento da sua missão.
João Marcos tomou posse no dia 27 de novembro de 2014, como Bispo Coadjutor, com direito de sucessão, assumindo o pleno governo da Diocese a três de Novembro de 2016, por renúncia de D. António Vitalino, em virtude do limite de idade (75 anos).
D. Fernando Paiva que foi nomeado a 26 de Março de 2024, e que foi ordenado e tomou posse na Sé de Beja a 7 de Julho do mesmo ano, encontrou uma Diocese com cerca de 12.300 Km2, a segunda mais extensa de Portugal, uma população de 200.149 habitantes (2021), com uma longa história de vida atribulada.
Fonte: Notícias de Beja