Isaurindo Oliveira
Foto: Agência ECCLESIA/HM

Beja, 17 nov 2023 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Diocesana de Beja afirmou que a crise da habitação colocou muitas pessoas numa situação de vulnerabilidade “extrema”, mostrando-se preocupado com o número de sem-abrigo.

“É um problema que está num crescendo muitíssimo grande, principalmente porque temos muitos migrantes e os migrantes estão sujeitos a toda a espécie de vulnerabilidades”, referiu Isaurindo Oliveira, em entrevista conjunta à Ecclesia e Renascença, emitida este domingo.

O responsável sublinha que o aumento de pessoas em situação de sem-abrigo é uma situação que “preocupando a comunidade, preocupando a Cáritas, porque a sua vulnerabilidade é extremamente elevada, nomeadamente ao nível da habitação, ao nível dos contratos de trabalho”.

“Não havendo dinheiro, não há pagamento do alojamento, se não há pagamento do alojamento vão parar à rua”, acrescenta, lamentando também a falta de casas para arrendar.

O presidente da Cáritas de Beja aponta ainda ao aumento de “problemas de saúde mental, alcoolismo, consumo de drogas”.

“Temos problemas de saúde pública que, penso, não estão a ser devidamente reconhecidos. Tudo isto está a crescer, até porque o número de migrantes, ou seja, a mão de obra necessária para esta região relacionada com a agricultura, relacionada com o Alqueva, ainda não atingiu o seu pico”, aponta.

Isaurindo Oliveira admite que, perante estas situações, “é relativamente fácil entrar pelo caminho do populismo e da demagogia”.

O responsável afasta a ideia de que problemas como os que se verificaram com trabalhadores migrantes, em Odemira, tenham ficado resolvidos.

“Estão a acontecer a toda a hora. O problema do Odemira não foi resolvido, foi atamancado, assim como os problemas aqui de Beja são atamancados”, indicou, falando numa “solução aparente” que ignora os desafios levantados pelo que denomina de “máfias”.

“Todas estas organizações andam anos-luz à frente das fiscalizações. É extraordinariamente difícil”, precisa.

O presidente da Cáritas de Beja admite problemas com financiamentos, que colocam dificuldades à “continuidade” dos projetos.

A Cáritas Portuguesa, em conjunto com a Cáritas Diocesana, vai assinalar este domingo Dia Mundial dos Pobres, com uma marcha pública que parte do largo de Santa Maria em direção ao Largo de São João, em Beja, às 19h00.

“Não vamos fazer isto só a pensar nos católicos. Todas estas pessoas que nós temos, pobres, migrantes, sem-abrigo, são pessoas. Muitas delas não têm religião, ou mesmo as que têm religião, nós não podemos olhar para este problema sob esse ponto de vista. Temos de olhar para as pessoas, para os problemas que elas têm”, adianta Isaurindo Oliveira.

A marcha inicia-se depois do concerto ‘Oração pela Paz’, conduzido pela artista Clara Palma e convidados, na igreja de Santa Maria, Beja, pelas 18h00.

A data é, simbolicamente, escolhida para o lançamento da campanha de Natal ‘10 Milhões de Estrelas, Um Gesto Pela Paz’, a decorrer até ao dia 1 de janeiro de 2024

A iniciativa, que nasceu em França, em 1984, tem como objetivos “sensibilizar para os valores da paz como vivência cristã do Natal e reforçar a ação da Cáritas a de apoio nacional e internacional”.

“As verbas angariadas ajudam a materializar as ações de dimensão social, da rede nacional Cáritas (65%), que são um contributo coletivo para um mundo melhor, mas também a colaborar com os países lusófonos (35%) através do fundo lusófono ‘Laudato Si’, apoio a microprojectos, sob o chapéu da Ecologia Integral, com o acompanhamento da Cáritas local. Desta forma é possível financiar e responder a necessidades de impacto local e alavancar comunidades na sua resiliência diária”, explica a Cáritas Portuguesa.

‘Não desvieis o olhar dos pobres’ (Tb 4,7) é o lema da sétima edição do “Dia Mundial dos Pobres”, no próximo domingo, data em que o Papa vai presidir a uma Missa no Vaticano, almoçando depois com um grupo de pessoas necessitadas, no auditório Paulo VI.

Na mensagem para este dia, Francisco adverte que é “muito fácil cair na retórica quando se fala dos pobres”.

“Tentação insidiosa é também parar nas estatísticas e nos números. Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma. São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma relação pessoal com cada um deles”, escreve.

Henrique Cunha (Rádio Renascença) e Octávio Carmo (Agência Ecclesia)

Partilhe:

Newsletter

Subscreva a nossa newsletter e esteja a par de todas as novidades!


Apontadores