HOSSANA!
Reunida para dar “início…à celebração do mistério pascal do Senhor” (Exortação inicial) a Igreja, num primeiro momento, escuta a página do Evangelho que narra a entrada do Senhor na cidade santa de Jerusalém. Para ali para onde Se encaminhou Jesus “para realizar o mistério da Sua morte e ressurreição (Exortação inicial).
No corrente Ano C escutamos a versão de S. Lucas que, num determinado ponto do Evangelho, diz assim: “Estando já próximo da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos começou a louvar alegremente a Deus em alta voz por todos os milagres que tinham visto, dizendo: ‘Bendito O Rei que vem em nome do Senhor. Paz no Céu e glória nas alturas!’ (Lc 19, 37-39)
Acerca deste episódio, os outros evangelhos testemunham que as seguintes aclamações dirigidas a Jesus: “Hossana ao Filho de David! Bendito O que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!” (Mt 21, 9); “Hossana! Bendito O que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem, o reino do nosso pai David! Hossana nas alturas! (Mc11,9-10); “Hossana! Bendito O que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!” (Jo 12, 13).
“Hossana”é uma aclamação que aparece em Mateus, Marcos e João, enquanto “BenditoO que vem em nome doSenhor”, versículo 26 do Salmo 117, está presente, com leves diferenças, nos quatro evangelhos.
No seu sentido primitivo, “Hossana” significa “salva, ajuda, suplico-Te, Senhor.” Estamos perante um grito de socorro, um pedido forte de ajuda. No Antigo Testamento aparece como uma súplica nos Salmo 19, 10: “Senhor, dai a vitória ao rei e atendei-nos quando vos invocarmos”; e no Salmo 117, 25: O povo suplicava, “Senhor, salvai os vossos servos, Senhor, dai-nos a vitória.” À súplica respondiam os sacerdotes: “Bendito o que vem em nome do Senhor. Da casa do Senhor nós vos abençoamos” (vers. 26). Uma procissão dirigia-se, então, para o altar: “Ordenai o cortejo solene com ramagens frondosas até ao ângulo do altar” (vers. 26).
A seguir ao regresso do exílio de Babilónia, por alturas do segundo templo, o povo da Antiga Aliança passou a utilizar o versículo 25 deste Salmo, especialmente na festa dos Tabernáculos. Durante os sete dias desta festividade, os fiéis andavam à volta do altar, enquanto os versículos 25 e 26. No último dia, a que chamavam “dia do grande Hossana”, todos levantavam e agitavam os ramos.
Tendo estes factos presentes, aquilo que nos é narrado nos evangelhos adquire agora uma nova projecção, muito mais ampla e profunda. No Antigo Testamento o canto do “Hossana” e o gesto de agitar os ramos só se fazia a Deus: Ele é a única esperança e fonte da salvação (Sl 61, 6-8). Todavia, a multidão que acompanha e recebe Cristo em Jerusalém, na qual se destacam as crianças, utilizou os mesmos cânticos e gestos que eram habituais na festa dos Tabernáculos. Não admira, portanto, a atitude de alguns fariseus que, percebendo o alcance de tudo isto, disseram a Jesus: “’Mestre, repreende os teus discípulos.’ Mas Jesus respondeu: ‘Eu vos digo: se eles se calarem, clamarão as pedras’” (Lc 19, 39-40). Assim, “o Hossana do Domingo de Ramos dirigido a Cristo – ‘Hossana ao Filho de David’ – era um reconhecimento do Seu messianismo, do Seu poder redentor e como que uma acção de graças a Deus porque, através de Cristo, levava definitivamente a salvação e a redenção ao Seu povo, pelas quais tinham rezado clamando nos seus antigos Hossanas” (Adalbert Franquesa, As aclamações da comunidade, Dossiers CPL, 65, p. 60).
Pe. Rui Carriço