Vamos celebrar a Páscoa!
Queridos irmãos e filhos no Senhor:
Aproxima-se a Primavera e, com ela, a festa da Páscoa, a festa da passagem de Jesus Cristo da morte para a vida, e da nossa passagem, com Ele, deste mundo para o Pai. É a festa da nascente da vida cristã, a festa do Batismo. Unidos a Jesus pela fé, d’Ele recebemos o dom maravilhoso de podermos, nós também, morrer para o pecado e ressuscitar para a vida nova de filhos de Deus. Porque estão em jogo realidades tão importantes para cada um de nós e para o mundo, convido- vos, irmãos caríssimos, a viver intensamente a Quaresma, este tempo de preparação para aquela que é, para nós cristãos, a Festa das festas e a Solenidade das solenidades.
1. Como sabeis, adotámos como lema para este ano pastoral na Diocese de Beja: Creio em um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. A Fé cristã brota do mistério pascal de Cristo, e, para nós, o centro das celebrações pascais é a renovação das Promessas do Batismo na solene Vigília. Trata-se do recomeço da nossa vida cristã, renunciando, de novo, ao demónio, e professando a fé em Deus Uno e Trino. Cristo morreu e ressuscitou para nos livrar da morte e do pecado, e nos fazer herdeiros da Sua própria vida. Celebrando a Páscoa abrimos as portas da nossa existência para acolhermos a Sua vitória sobre o nosso pecado e sobre a nossa morte. De facto, é acreditando no Senhor Jesus Cristo que somos libertados dos laços que nos prendem ao mal. Assim, queridos irmãos e irmãs, neste tempo favorável que a Igreja nos oferece para mais seriamente nos convertermos ao Senhor, acreditai no Evangelho e mudai de vida, para que, nas próximas celebrações pascais possais professar, com mais amor e verdade, a fé da Igreja na qual fomos batizados e na qual queremos viver e morrer.
2. A Quaresma é como que um Catecumenado que a Igreja nos oferece em cada ano para refontalizar a nossa vida escutando o anúncio sempre novo dos mistérios de Cristo, acolhendo a Sua palavra, aprofundando a fé, crescendo na esperança e vivendo na caridade. A Quaresma, tal como o Catecumenado, vem ao nosso encontro convidando-nos a reconhecer os nossos pecados â luz da misericórdia de Deus, a aproximarmos d’Ele e da Igreja meditando nas verdades da nossa fé, celebrando-as na Liturgia e orientando a nossa vida segundo a moral evangélica. A Igreja propõe-nos, como meios para progredirmos na vida cristã, o jejum, a oração e a esmola.
Precisamos de aprender a jejuar. Além dos dois dias de jejum obrigatório para todos nós, (quarta-feira de cinzas e sexta-feira santa), convido-vos a jejuar um dia por semana, na sexta-feira, por exemplo, em memória da Paixão e Morte do Senhor, e como penitência pelos nossos pecados. Jejuar é não comermos uma refeição. O nosso jejum deve ser significativo, deve ser sinal exterior de uma realidade interior. O jejum de alimentos, quando verdadeiro,
manifesta um coração humilde e abnegado, que reconhece Deus como o único necessário para vivermos, e que considera os outros acima das coisas e do meu próprio “eu”. O jejum coloca o ser humano no seu devido lugar: liberto da autossatisfação da comida e da ganância dos bens materiais e dependente de Deus para estar ao serviço dos outros.
A oração, por sua vez, faz-nos crescer na relação com Deus e, consequentemente, com os irmãos. A oração é o motor do processo da nossa conversão. Por meio dela, o nosso coração volta-se para o Senhor e cresce na virtude da piedade que faz de nós amigos de Deus. Pela escuta da palavra, pela celebração dos sacramentos e pela oração pessoal, crescemos na comunhão com a fonte da vida que é o Senhor.
A esmola, por fim, é uma forma de reconhecimento de que, pelo facto de Deus ser o nosso Pai, todos somos irmãos uns dos outros. E, por isso, repartimos com os necessitados os nossos bens. Assim, também pela esmola, se manifesta e alimenta a comunhão fraterna, própria da nossa condição de filhos de Deus.
3. A criação encontra-se em expetativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus (Rm 8, 19). É este o tema da Mensagem do Santo Padre para a Quaresma de 2019. Porquê esta expetativa ansiosa de toda a criação, esperando a manifestação dos filhos de Deus? Porque o pecado do homem perverte o sentido da existência de todas as criaturas, e as escraviza. E toda a criação espera que apareçam os filhos de Deus, libertados da escravidão da soberba, da ganância e da luxúria, da violência, para ela própria ser libertada de uma existência vã. De facto, Deus criou o mundo, tendo em vista a redenção que havia de ser realizada por Seu Filho Jesus. A redenção é a “recriação” do mundo pela morte e ressurreição de Cristo. Por isso, afirma São Paulo: Se alguém está em Cristo, é uma nova criação (2 Cor 5, 17). Ser filho de Deus é, pois, acreditar e viver em comunhão com o Pai que nos ama, dá a vida e perdoa, com o Filho que é nosso irmão e Salvador, e com o Espírito Santo que nos inspira, ilumina e santifica.
4. Comunico-vos, queridos irmãos e irmãs, que a Renúncia Quaresmal deste ano terá como objetivo ajudar os nossos irmãos da Venezuela, nesta crise que estão vivendo. Sabemos as dificuldades políticas, sociais e económicas que este país atravessa. Assim, metade da Renúncia Quaresmal deste ano será entregue à Cáritas venezuelana, ficando a outra metade para a diocese de Beja, tal como aconteceu em 2018. Informo-vos também que, no ano passado, a Renúncia Quaresmal rendeu 18.412,32 euros, dos quais 9000 foram entregues à Custódia da Terra Santa. Sede generosos, pois a esmola apaga uma multidão de pecados.
Queridos irmãos: Vamos celebrar a Páscoa! Preparemo-nos bem escutando a Palavra do Senhor, confessando os nossos pecados, orando uns pelos outros, fazendo jejum e dando esmola. E o Espírito do Senhor habitará em nós, dando testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus e herdeiros da Sua mesma Vida (Cf. Rm 8,16-17). Ele vos abençoe, e a Sua paz permaneça convosco!
+ João Marcos, bispo de Beja
Beja, Março de 2019