Homilia no Domingo de Páscoa
Catedral de Beja, 21 de Abril de 2019

Senhores Padres e Diáconos, caros Seminaristas, Religiosos e Religiosas, todos vós meus irmãos:

1 – O Senhor ressuscitou!
Neste dia de Páscoa, ressoa por todo o mundo este brado que também eu quero fazer chegar aos vossos ouvidos e ao vosso coração, queridos irmãos aqui presentes: para ti, para nós, para todos aqueles que são escravos do medo de morrer, o Senhor venceu a morte,o Senhor ressuscitou verdadeiramente!
Como podemos ler no Evangelho de Lucas, já era noite, já tinha passado aquele primeiro dia da semana cheio de interrogações e de surpresas, e os apóstolos e aqueles que estavam com eles, depois de escutarem maravilhados a narração dos discípulos de Emaús, disseram:É verdade! O Senhor ressuscitou, e apareceu a Simão!

Esta é a boa notícia que todo o mundo, submetido ao poder da morte esperava, e espera ainda, receber. A criação inteira, subjugada a uma existência vã pelo pecado dos homens, diz o apóstolo Paulo, espera, com ânsia, a manifestação dos filhos de Deus que lhe anunciem e lhe ofereçam a libertação dessa existência corrupta que é fruto do medo de morrer e nos escraviza ao poder do mal (cf. Rm 8,18-21; Hb 2,15). Mortos com Cristo para o pecado e com Ele ressuscitados para vivermos como filhos de Deus, nós, cristãos, somos proclamadores desta palavra nova, portadora do futuro bom da humanidade já reconciliada com o Pai: humanidade libertada da escravidão da soberba, da avareza, da luxúria, da ira, ou seja, do mal; humanidade onde crescem já as virtudes da piedade, da humildade, da generosidade, da castidade, da mansidão, da caridade, virtudes que levam a terra a ser vizinha do Céu. E, por isso, não nos cansaremos de proclamar, aos quatro ventos, a boa nova da Ressurreição de Jesus.

2 – Acreditar na ressurreição do Senhor é o início da vida cristã. Alguns discípulos, começando por Maria Madalena e as outras mulheres, como escutámos há momentos no Evangelho, encontraram o túmulo vazio e escutaram o anúncio dos anjos. Depois, viram o Senhor que os saudou e lhes deu a paz, censurou a sua lentidão de espírito para acreditarem nas Suas palavras, desfez as dúvidas dos seus corações e enviou-os pelo mundo a anunciar o Evangelho. E a pregação viva destes apóstolos fez surgir a resposta da fé cristã no coração de muitos dos seus ouvintes. O seu testemunho, no qual sempre se conjugam o anúncio verbal que entra pelos ouvidos e a ação do Espírito Santo que dá testemunho ao nosso espírito, chegou até nós que agora estamos vivos e temos hoje esta mesma missão de anunciar a vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e a morte.

O túmulo vazio ou, melhor ainda, o vazio do túmulo, é o ponto de partida. Que é a Páscoa? É um tempo vazio, sem celebração da Eucaristia, desde a Última Ceia de Jesus em Quinta-feira Santa, até à Vigília Pascal. É um tempo vazio no qual passa Cristo Senhor Nosso que nos leva, com a Sua graça, deste mundo para o Pai.

3 – Para que atue profundamente em nós a celebração da Ressurreição de Jesus, têm de estar vazios os nossos corações. Para isso, a santa Mãe Igreja deu-nos os quarenta dias da Quaresma para praticarmos, com a oração mais intensa, com o jejum e com a esmola, o esvaziamento e a morte de tudo o que é pecado, e assim darmos cada vez mais espaço ao Senhor em nossas vidas. Também a nossa profissão de fé, na noite da Páscoa, foi precedida por aquele esvaziamento que é a renunciação ao pecado e ao demónio. Mais ainda: como escutámos na segunda leitura do domingo passado, tirada da Carta aos Filipenses, todo o percurso de Jesus, Filho de Deus, neste mundo, consistiu num esvaziamento de Si mesmo. De facto, Ele, sendo Deus, não Se apegou avidamente à sua condição divina, mas fez-Se homem. Este esvaziamento do Senhor que, por nosso amor, Se fez Servo obediente até à morte de cruz, deve reproduzir-se em nós, pois esse é também o percurso do discípulo que acredita e segue o seu Mestre até ser crucificado por amor d’Ele, na esperança de com Ele ressuscitar. Esse seguimento, essa fé, cresce e manifesta as obras de Cristo naquele que acredita e que pode dizer com verdade, as palavras de S. Paulo: Já não sou eu que vivo: é Cristo que vive em mim! (Gl 2,20).

4 – Em que consiste esta vida de Cristo em nós?
Gravemos, irmãos, em nossos corações as palavras que ouvimos na segunda leitura da Carta aos Colossenses:
Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do Alto onde está Cristo sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do Alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo que é a vossa vida Se manifestar, também vos haveis de manifestar com Ele na glória.

O que são as coisas do Alto a que nos devemos afeiçoar? Em que consiste esta vida escondida com Cristo em Deus? Sublinho-vos estas perguntas, meus irmãos, para que encontreis respostas para elas ao longo do Tempo Pascal, que hoje começa. As leituras da Missa no Tempo Pascal são todas do Novo Testamento. São um tesouro imenso que nos ajuda a concretizar, em nossas vidas, as melhores respostas a estas perguntas tão básicas. Mas comecemos já, irmãos, perguntando-nos onde poderemos encontrar-nos com Jesus ressuscitado? Os Evangelhos mostram-nos que Ele aparece no meio dos discípulos reunidos em Seu nome, segundo a Sua promessa:onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, eu estarei no meio deles(Mt 18,20). Estarmos reunidos em Nome do Senhor é estarmos juntos para realizar as Suas obras, quer dizer, com o poder da Sua pessoa, com o poder que o Pai Lhe confiou de nos fazer passar da morte para a vida e deste mundo para a Sua glória. O próprio Senhor Jesus, aparecendo no meio dos Seus no primeiro dia da semana e oito dias depois, nos ensinou a celebrar o domingo saboreando a Sua presença salvadora no meio de nós. E, por isso, a participação na assembleia celebrante de cada domingo, ou seja, na Eucaristia dominical, é o nosso encontro semanal com o Senhor ressuscitado.

O outro lugar onde podemos experimentar a força da sua presença é na Galileia, para onde o Senhor Ressuscitado envia os Seus discípulos: lá Me vereis(Mt 28,10)! A Galileia onde Jesus Se manifesta poderosamente é a evangelização. Como podemos ler na conclusão do Evangelho de S. Marcos, eles saíram a pregar por toda a parte, e o Senhor colaborava com eles confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam (Mc 16,20). E, ainda hoje, Cristo ressuscitado envia os Seus discípulos e os acompanha na pregação do Evangelho.

5 – Queridos irmãos, celebremos a Ressurreição de Jesus Nosso Senhor para nos refontalizarmos na nascente deste rio de vida que é Ele, para nos saciarmos nas fontes da salvação que são as Suas chagas, para voltarmos de novo ao Seu túmulo vazio e aí escutarmos o anúncio dos anjos: porque buscais entre os mortos Aquele que vive? Não está aqui, ressuscitou!(Lc.24,5) Ressuscitados com Ele, comecemos a viver de novo, não já como quem busca a felicidade e a vida entre os mortos, mas como quem testemunha que foi encontrado pelo Senhor Jesus, vencedor da morte e fonte e rio de Vida para quantos n’Ele acreditam. É esta santa Páscoa, com Jesus Ressuscitado, que desejo a todos vós, caros irmãos!
A graça e a paz do Senhor Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre, estejam convosco!

+ João Marcos, Bispo de Beja

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